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terça-feira, 20 de julho de 2010

As Entrelhinhas de um Livro Empoeirado


A vida inteira ele escreveu... não era um poeta, não criava histórias de amor, tinha um gênero drámatico e sarcástico que o diferenciava dos outros escritores.
Na verdade, ele estava cansado, seu oficio exigia muito da seu intelecto e percepção da vida, para escrever ele precisava conhecer bem a alma humana, era um realista. Sua biografia refletia os acontecimentos de seu passado, quando jovem era um boêmio, entregue a paixões avassaladoras e bebidas, ele realmente acreditava no amor, tinha convicção de que sua amada chegaria e o faria escrever uma história de amor baseada em fatos reais.
Muitas mulheres passaram pela sua vida, anos de relacionamentos frustrados, o fizeram parar de pensar em hipóteses. Então pegou uma caneta e um papel, e escreveu sobre um amigo que se suicidou após uma decepção amorosa, com um simples copo de veneno, letal. Ele pensava e pensava... mas porque uma pessoa seria capaz de acabar com sua própria vida em função de outra que nem mesmo foi capaz de respeitar a confiança que em si foi depositada? isso soava doentio e sombrio, e era disso que ele precisava pra escrever sua primeira história de horror trágico... cada palavra escrita saira com pesar e tristeza, depois de dias enfim, ele completou seu primeiro livro, que teve uma explosão de vendas; realmente as pessoas gostavam de ver desfechos melancólicos.
Cada dia que se passava ele se aproximava mais da vida de outras pessoas, e enxergava uma realidade que até então não percebera que existia, ele via que o amor que ele tanto prezava anteriormente, não existia, em muitas vidas.
Então misturando ficção a realidade ele se isolava mais em um mundo que o aterroziva, um mundo cercado de mentiras e falsas ilusões, talvez fosse sua própria visão do que era a vida, ou talvez realmente fosse o mundo em que todos vivemos (?).
Ainda mais trancafiado em seus pensamentos, viu os anos passarem, publicou diversos livros, o sucesso de vendas foi garantido em todos eles, mas ele viu a sua vida inteira passar, na frente de seus olhos, não encontrou um amor, deixou de acreditar que ele existia.
E quando se deu conta do que tinha se tornado, viu que havia feito consigo mesmo o que mais temia, tinha se anulado, pra viver em função de outras pessoas.
Em seus últimos segundos de vida, escreveu sua última frase, e a mais célebre de todas: 'Vivi para esconder meus sentimentos, e preferi acreditar em erros refletidos em antigos espelhos, espero que as próximas gerações se inspirem nas próprias opiniões, e não deixem que seus corações produzam um grito abafado, quando na verdade ele quiser apenas pulsar, por alguém.'
Em seguida ele partiu, feliz, porque havia dado tempo de reconhecer que não se vive por alguém, mas se dar a oportunidade de ter alguém, deixaria tudo mais leve, amar é conviver, e conviver é viver com, e não viver para.